terça-feira, maio 30, 2006

RTP

A reportagem/debate levada a cabo pela RTP foi um momento de verdadeiro serviço público.
Destacou-se o profissionalismo do moderador que exerceu um papel verdadeiramente objectivo demonstrando estar preparado para o debate.
Destacou-se, também, a posição da Dr. Fátima Bonifácio que consegui desmontar a estratégia elitista que os sucessivos governos de direita, que estão no poder desde 2002, têm para o ensino público. Aliás, regista-se que esta coincide com aquela que este Blog tem vindo a defender desde o princípio a saber:
pretende-se implantar uma nova forma de elitismo na educação para que apenas certas e determinadas classes (de acesso restrito) possam ser as futuras classes dominantes.

Por fim, completamente lamentável foi a prestação do responsável político. Não apenas demagógico. Foi utilizador de um discurso gasto, desactualizado, plagiador onde se demonstra total e completa ignorância acerca dos assuntos em questão. Lamentável, portanto!

10 comentários:

Anónimo disse...

Concordo em absoluto e assino por baixo!

Anónimo disse...

E a Benavente e os outros que por lá passaram desde Abril ? Não têm nada a ver com o actual estado das coisas ? É só desde 2002 ?

Desculpar-me-á, mas se há ministério onde cada ministro é pior do que o outro tem sido o da Educação. E o resultado está aí.

Eu não consigo distinguir a esquerda da direita naquele reino de inconsequencia.

Mas reparei que a Professora Fátima Bonifácio apontou a solução recorrendo a um conceito do mais direitista que existe: a autoridade pessoal e institucional do Professor. Até ridicularizou os processos disciplinares dos alunos.

Se naquele debate foi possível distinguir conceitos de esquerda ou de direita terá sido apenas na utilização direitista do conceito de autoridade do professor.

Se não fosse a "bicada" na direita, concordaria em absoluto com o que afirma.

Só mais uma: quer saber quantos filhos, sobrinhos e netos de Socialistas proeminentes frequentam o Colegio do Sagrado Coração de Maria, João de Brito, Valsassina, Moderno, Alemão, etc. em Lisboa ? Dum deles tenho o anuário em casa que lhe posso enviar e dos outros faço uns telefonemas.

Não leve a mal a minha discordancia. Mas está estafada a tese de que a esquerda anda no publico e a direita no privado. Pelo menos aqui pela urbe. Por aí admito que possa ser diferente.

Blogexiste disse...

Olá carneiro, vou tentar explicar um pouco melhor.
(isto está grande... falta-me poder de síntese! Olhe, vá lendo aos poucos, se lhe der seca, desista que eu não levo a mal).
Cumprimentos

IDEOLOGIA

Direita – desde Salazar que a política educativa da direita fomentava o acesso à educação apenas para alguns... desde textos onde tal orientação era manifestada explicitamente (do género “para que é que o povo deve aprender a ler? Ainda lhe faz é mal por causa de tanta “contaminação” ideológica que anda por aí...”) até à massificação do ensino básico no final do estado novo onde o sistema acabava por fazer implicitamente uma «selecção natural». Os que conseguiam estudar e vencer todos os obstáculos acabavam por ser poucos e, por isso, os privilegiados: desde empregos melhores até à possibilidade de fazer parte dos círculos de poder e das classes dominantes.

Esquerda – procurando anular a vertente elitista da direita, a esquerda tratou de “decretar” uma suposta igualdade... igualdade que em muitos casos se revelou ser, ela própria, elitista ao tratar igual o que era desigual. Posteriormente, acentuou o conceito de escola inclusiva no sentido de dar à escola o papel de incluir na sociedade, ou pelo menos não acentuar, as situações em que a população escolar indiciava já uma tendência para uma certa exclusão social. Daqui resultou um pré-conceito que defendia o aluno até às últimas consequências acabando por se cultivar uma cultura de falta de responsabilização. O aluno acabaria por passar independentemente de estudar ou não... de se portar mal ou bem, etc.

CONCEITOS

Autoridade – não vejo que este conceito seja de direita. Considero-me de esquerda e não me choca subter-me à autoridade que emana de um polícia, de um juiz etc... diria mesmo que não há sociedade se não houver autoridade. Veja-se, a nível familiar, a importância da autoridade do pai/mãe: não é apenas um direito paternal... é um Dever... aquilo que se chama o poder/dever paternal.
Não deve ser confundido com autoritarismo... ou seja, o exercício do poder pelo poder. Ora, enquanto eu tiver a possibilidade de reagir institucionalmente à autoridade policia e judicial, e etc. e tal, não tenho medo nenhum.
Condeno, em absoluto, professores autoritaristas... mas, sejamos francos, desses, já há muito poucos e estão mais ou menos localizados. O único que conheço e que se aproxima dessa imagem, não faz mal a ninguém: é o professor do menino Tonecas.
Agora, a autoridade do professor é algo que é fundamental num sistema de ensino e, por consequência, na sociedade. Até porque há mecanismos de controle para refrear qualquer abuso que possa existir. É sabido que basta uma pequena queixa para que a Inspecção actue sem dó nem piedade por vezes cometendo tremendas injustiças.

Dito isto convém verificar que o que este governo está a fazer é aplicar o pior do sistema da direita com o pior da esquerda. Impõe, na prática, uma escola elitista uma vez que pretende destruir a eficácia das escolas públicas. Logo, apenas alguns terão acesso a escolas privadas e consequentemente à educação. Ao mesmo tempo arrasa toda a autoridade do professor sem a qual não pode existir nunca Educação (em sentido lato).

Finalmente, importa reter que eu não digo que é a direita que tem os seus filhos no privado e a esquerda na pública. O que eu digo é que quem pode (direita ou esquerda) põe os seus filhos no privado (um sistema exigente onde a autoridade dos professores e do sistema ronda o autoritarismo); quem não pode, limita-se a utilizar o que está ao seu alcance. É isto que está agora a ser implementado. É justo? Não... acho que não. Sou a favor da igualdade de oportunidades. Igualdade material, entenda-se! Não acho que o futuro de uma pessoa tenha de ser definido de acordo com o poder económico da família e dos percursos e oportunidades que esta lhe pode oferecer.

Nota: É verdade, os males da Educação são anteriores e sim, a Benavente (que nunca foi ministra) também tem culpa na matéria. No entanto é a partir de 2002, com David Justino, que a situação se agravou entrando agora em pleno declínio.

Anónimo disse...

«este governo está a fazer é aplicar o pior do sistema da direita com o pior da esquerda»

«Igualdade material, entenda-se! Não acho que o futuro de uma pessoa tenha de ser definido de acordo com o poder económico da família e dos percursos e oportunidades que esta lhe pode oferecer.»

Torno a assinar por baixo, sobretudo estas duas frases!

Anónimo disse...

Li com atenção e de uma só vez. Você explica-se bem.

Na essencia estou de acordo.

Mas olhe que Profª Fátima Bonifácio não falou apenas em autoridade democrática... Ela até ridicularizou (insinuando que não fazem falta) os processos disciplinares aos alunos - e estes conheço-os bem pois sou eu a minutá-los quando a minha mulher é nomeada instrutora (mimos de marido, leva a papa-feita só tem que por os nomes e as datas. Além de que já tenho defendido professores arguidos)

Mas há uma dimensão inevitavelmente elitista no ensino. Inevitavelmente níveis mais avançados de aprendizagem só podem e devem ser dirigidos áqueles alunos que pela sua aptidão comprovada pelo histórico recente estão em condições de aproveitar os recursos que a sociedade neles investe. A maioria inevitavelmente já ficou para trás. Como diz o povo "não podemos ser um país de doutores". E nessa maioria que fica para trás certamente que há muitos que, vitimas do ambiente socio-económico-familiar, começaram a queimar hipóteses desde muito cedo. E, na eventualidade de terem nascido noutra família até poderiam ter tido condições para fazer o percurso até ao fim. Mas nasceram numa família que não lhes deu hipóteses. E até poderiam ter nascido em Darfur...

Aceitar esta situação como inevitável, afirmando-me eu de direita ideológica, não significa que eu seja um maléfico opressor dos mais fracos. É apenas constatar a realidade e lidar com ela com a naturalidade possível que significa, neste caso, não me sentir culpado por aqueles que, por aquelas razões, ficaram para trás no processo de aprendizagem de valências.

Estou inteiramente de acordo com o principio de igualdade de oportunidades. E quem lhe diz isto frequentou a Católica ainda nos anos 70 em manifesta inferioridade social. Por isso, garanto-lhe que sei do que falo. Senti-o na pele. Mas o elitismo é um processo inevitavel à própria selecção natural.

Um sistema de ensino que busca a excelencia no topo da piramide, necessariamente tem que ser elitista na sentido de ser obrigado a aligeirar carga pelo caminho. E essa carga que se aligeira é o conjunto dos alunos que não aguentam a pedalada. Para os quais não vale a pena gastar mais recursos publicos, pois estes são escassos e o insucesso é manifesto.

Ou seja, eu não considero o Quadro de Honra como uma atitude elitista. Pelo contrário acho que potencia aquela dose mínima de auto-estima e de vaidade pessoal em se ser bom que é inerente ao desenvolvimento do próprio adolescente.

Ou seja, tem que haver uma dose mínima de agressividade, de concorrencia, de afirmação egoísta - tudo manifestações de tipo capitalista - para que o processo de ensino-aprendizagem se apure.

Ademais, eu até defendo no ensino superior um sistema de bonificações progressivas para as propinas. As propinas pagavam-se por disciplina. Aluno com 20 estava isento, com 19 pagava 10 %, 18 pagava 20% .... com 11 pagava 90 % e com 10 de nota pagava os 100%.

Premiava-se a excelencia, convidava-se ao trabalho, garantia-se o financiamento, e oferecia-se igualdade de oportunidades.

(Coisa diferente seria a habitação-refeições e outras ajudas sociais aos que dela cerecessem).

Eu sou apenas um pai de 3 e marido de uma professora que se interessa pelas questões do ensino de forma "amadora" e apenas na periferia do meu interesse específico. Não sou nem pretendo ser um teórico destas coisas que tento ver com lentes de mero bom senso, ao mesmo tempo que tento aprender com quem estou a sério estas questões.

Já cheguei a ter os 3 em Colégio particular, mas actualmente tenho uma a acabar o 11º no particular, Está com média quase de 19 e optámos por a manter até ao final do 12º. "Já agora"... Tenho um no oficial no 7º ano e o mais pequeno acabou a pré-primária no particular e vai para o primeiro ano no oficial.

Na pré-primária em Lisboa só é viável o particular para a classe média. A rede publica é só para "o social". Só os "pobrezinhos" da santa casa têm vaga em infantário a preço contido.

Se há 15 anos o particular era inevitável para quem queria dar aos filhos o mínimo aceitável - pois o oficial era um descalabro completo - hoje em dia já não é assim. O particular degradou-se com muitas turmas e 28 alunos por turma. São fábricas de fazer dinheiro. E usam batota nas notas para subir as médias do 12º como forma de publicidade para as inscrições futuras...

Mas o oficial está mais esmerado. Desde que se consigam evitar as escolas problemáticas da imigração africana e dos bairros sociais e de lata, a "coisa" até funciona razoavelmente. (os imigrantes de leste e os chineses servem para melhorar o nível das turmas).

Anónimo disse...

Concordo, plenamente,com os comentários anteriores. Tudo se arrasta há já um bom par de anos,e, agora parece ter-se afundado completamente. Há uns anos discordei das políticas educativas, perfeitamente disparatadas da Ana Benavente, que considero ser uma das responsáveis pelo estado caótico em que nos encontramos, no entanto, são estas pessoas,que ajudam a mergulhar o país na ignorância, que são condecoradas pelo Sr.Presidente da República. O que eu nunca pensei é que houvesse mentes mais "iluminadas" do que a da DrªAna Benavente, mas afinal há, resta saber o que é que ainda inventarão mais!
Quanto ao programa sobre indisciplina nas escolas, saúdo as intervençoes das professoras e, em especial, da Profª.Fátima Bonifácio Bonifácio, que não se preocupou com conotações de direita ou de esquerda. Triste figura fez, contudo, o psicólogo, que afinal não estava lá para ser psicólogo mas encarregado de educaçãoao, quanto ao responsável político, simplesmente, lamentável!

Blogexiste disse...

De facto, concordamos no essencial. Há, aí pelo meio, umas questões de procedimento mas não é relevante.
Quanto aos processos disciplinares, (e considerando que já minutou uns quantos) não acha que eles são de facto demasiadamente burocráticos? E para quê? O aluno ofende, agride, perturba sistematicamente a aula e o que é que lhe acontece? Depois de tanta papelada vai para casa uns dias! E depois? As faltas nem sempre contam para chumbar! Nos casos em que contam, o aluno é obrigado a permanecer na escola até ao final do ano. Isto é, o aluno sabe que, na prática, está chumbado por faltas mas é obrigado a estar na sala de aula até ao fim. Já imaginou o que este cavalheiro faz àquela aula? E o direito dos outros alunos às condições de aprendizagem?
Bom isto seria outra conversa, mas sobre isto a senhora Ministra está calada!

Laura: quanto ao psicólogo de serviço (e porque é aqui do burgo) apenas acrescento que quando o ouço, só me ocorre aquele provérbio: “muito bem prega frei Tomás, faz o que ele diz mas não faças o que ele faz”!
E mais não digo!

Anónimo disse...

O psicólogo apareceu naquele programa como aparece na maioria dos programas. O Fulano tem uma clínica, - a ultima invenção é "ioga para bebés" - factura milhões e precisa da publicidade televisiva. Sei do que falo, pois profissionalmente estive ligado a uma clínica que durante uma década tinha uma avença com uma "agencia de imagem" que conseguia entrevistas em revistas e jornais, entrevistas em directo nos telejornais, nos programas da especialidade, etc , sempre sob o signo de "ser o grande especialista" naquela área médica. - ou seja, o Carrilho tem razão quando se queixa que os critérios jornalísticos estão á venda... -. 100 mil euros de honorários e 200 mil para "despesas autorizadas" e o meu amigo passa a aparecer em directo mos telejornais como sendo o grande estudioso da borboleta amarela, ou outra coisa que se queira. Aliás, o despeito do carrilho é que ele pagou, mas a agencia da concorrencia foi melhor que a dele...

Mas o psicológo teve razão quando sustentou que o poder paternal daqueles miúdos deveria ser inibido. Manifestamente os pais não estão á altura, e os filhos devem ser-lhes retirados. Só que, depois, para lá de sermos o país com mais presos adultos per capita da europa, passaríamos a ser o país europeu com mais menores per capita em colégios de internamento correctivo. Solução da qual sou adepto, não fosse o custo fabuloso que tal comportaria. Se bem que paguemos esse preço mais tarde em criminalidade e em prisões...

Quanto ao processo disciplinar tem plena razão. E isso acontece, porque desde a "era Benavente" que a "participação" - que antes servia como auto de notícia dotado de presunção de verdade no seu conteúdo (ou seja, se não fosse provado o contrário, tinham-se os factos constantes da participação como verdade plena) -, passou a ser tratado sem essa especial qualidade processual. Ou seja, em bom rigor a participação do professor, da Auxiliar ou de outro aluno ou Pai passou a estar no mesmo saco e ao mesmo nível. Na prática, para dar como provada a verdade processual não chega a participação do Professor. É necessário completar esse "indício" de ilícito com outros meios de prova. (mais um aspecto da retirada de autoridade ao professor)

Também o direito de defesa está alargado até aos limites do aceitável. O que o torna excessivo.

Do meu ponto de vista, a participação de Professor ou de Auxiliar ou outro funcionários da Escola deveria ser presumida verdadeira.(as outras, sim, é que ficariam sujeitas a prova complementar) O EE era convocado telefónicamente para se vir pronunciar sobre a participação que estaria na secretaria á disposição. Tudo em 48 horas. Seguia-se decisão. Recorrível, obviamente. Mas a coisa em 2 ou 3 dias ficava resolvida em "primeira instancia".
Em caso de injúrias verbais ou violencia física a suspensão provisória era imediata.

Seguia-se um registo em cadastro individual e ao fim de 3, 4 ou 5 processos análogos (enfim, quantidade a ponderar), a Escola ficava com o direito de recusar a matrícula no próximo ano.

A médio prazo os "indesejáveis" desapareciam.

Pressupondo, isto tudo, que haveria uma escola especial para recolhar estes miudos.

Apesar de tentar na minha vida quotidiana ser um "paladino" da liberdade contra a opressão dos cidadãos, a verdade é que estes miúdos não devem ser colocados ao nível daquels que têm um problema esporádico de mau comportamento. Estes miúdos fazem da violencia e do roubo o seu modo de vida e inevitavelmente irão acabar nas prisões. É uma questão de tempo.

Por isso, a solução não está apenas na escola. Enquanto eles forem obrigados a ir á escola, apenas se está a fazer cair em cima da escola problemas que são alheios ao seu mister e para os quais não tem vocação ou meios.

Esta ideia "benaventiana" de que a escola além de ensinar deve ocupar ludicamente os miudos e ser a sua segunda casa...
Ora se eles não têm uma primeira casa, se eles normalmente têm como lúdico o roubo e a agressão na rua, obviamente que a escola em nada os incentiva ou interessa, por muito apelativa que seja em actividades para miúdos "normais".

É como tentar explicar, com muito jeitinho e pudor, a um adolescente de 12 anos a reprodução humana e depois percebermos que esse miudo até faz pornografia...

Blogexiste disse...

Tem toda a razão!

Anónimo disse...

E como se não bastasse, o responsavel político tentou fazer uma localização social e geográfica da escolas exibidas e... Espalhou-se ao comprido!
Sei-o eu e muitos outros técnicos daquela casa que sabemos onde as imagens foram recolhidas!