domingo, novembro 17, 2013

mATEMÁTICA (de agora)


O ministro Crato tem-se esforçado por entrar para a história como o pior ministro de todos os tempos. Objectivo difícil, reconheça-se, na medida em que sucede a Maria de Lurdes Rodrigues (Isabel Alçada não conta) essa sim, a pior ministra de todos os tempos.

Ora, para quem, como eu, não aprecia os “piores ministros de todos os tempos” Crato até pode vir eventualmente a redimir-se se levar a bom porto a tarefa (difícil, é claro) de revogar os atuais programas de matemática.

(Opsss, olhem só o que eu fui dizer: matemática. Matéria absolutamente tabu e inquestionavelmente arredada da discussão pública tal a sapiência dos ditos… os matemáticos).
Pois é. A actual matemática interessa a todos:

professores,
pais,
alunos,
país…

Sim, a actual matemática chamou a si a “nobre” função segregadora, o “nobre” desígnio de reprodutora das assimetrias sociais. Nesta medida o actual programa de matemática interessa a todos.

Interessa aos "professores" na medida em que desde cedo começa a estigmatizar (e, como tal, a afastar) as crianças que, com as respectivas evidências objectivas – sim, a matemática é coisa de objectivos – acabam por se mentalizar que não têm cabecinha para os estudos.

Interessa aos "pais" porque assim o próprio caminho encarrega-se afastar do caminho tantos e tantos concorrentes que a democraticidade do ensino punha em em pé de igualdade com os seus filhos.

Interessa aos "alunos" porque com a matemática de hoje não se tem dificuldade desde que o explicador explique bem nas sessões de explicação pagas a peso de ouro.

Interessa ao país porque, quanto mais cedo conseguir afastar os pobre e pô-los a trabalhar nas obras, melhor: o Estado não tem tempo nem dinheiro a perder com estes (que por vezes até têm o atrevimento de se auto-apelidarem de "alunos").

Lamentavelmente e ironias à parte todos sabemos que,  nem uns nem outros, ganham com esta miséria que se está a passar nas nossas escolas. Pelo contrário: todos perdem. 

Os professores porque, ao aderirem acriticamente a este processo de segregação civilizacional estão a hipotecar a sua consciência e ética social.

Os pais (todos os pais) porque sujeitam os seus filhos a processos e acções completamente desajustadas do seu estado de desenvolvimento e maturidade e que acabarão por se revelar absolutamente traumáticas e com consequência devastadoras. 

Os alunos porque são eles, em primeira linha, as vítimas destas “brincadeiras” de mau gosto. 

O país porque colectivamente vai arrasar uma geração de gente válida para favorecer meia dúzia de adolescentes mimados que acabarão por ter sucesso na vida apenas porque têm pais com posses para pagarem a peso de ouro as explicações que nem todos têm acesso.

O que se passa actualmente no ensino, em particular com os programas das disciplinas ditas nucleares, é absolutamente criminoso. O silêncio que impera sobre isto (imposto por uma força de arrogância disfarçada de intelectualidade absoluta) é avassalador. É urgente denunciar tudo isto para que, tão cedo quanto possível possamos poupar as nossas crianças a estes crimes políticos.

Se Crato tiver coragem para pôr um ponto final a tudo isto, voltando ao antigo programa de Matemática (esta, sim, escrita com letra maiúscula), poderá ter oportunidade com ter feito pelo menos algo positivo.



Finalmente tenho de deixar uma crítica feroz às associações (ou colégios ou ordens ou lá o que é que há sobre isto) de psicólogos que se mantêm em silêncio e não denunciam a inadequabilidade de matérias face ao estádio de desenvolvimento/maturidade dos alunos.

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