O ministro Crato tem-se esforçado
por entrar para a história como o pior ministro de todos os tempos. Objectivo
difícil, reconheça-se, na medida em que sucede a Maria de Lurdes Rodrigues (Isabel
Alçada não conta) essa sim, a pior ministra de todos os tempos.
Ora, para quem, como eu, não
aprecia os “piores ministros de todos os tempos” Crato até pode vir
eventualmente a redimir-se se levar a bom porto a tarefa (difícil, é claro) de
revogar os atuais programas de matemática.
(Opsss, olhem só o que eu fui dizer:
matemática. Matéria absolutamente tabu e inquestionavelmente arredada da discussão
pública tal a sapiência dos ditos… os matemáticos).
Pois é. A actual matemática
interessa a todos:
professores,
pais,
alunos,
país…
Sim, a actual matemática chamou a
si a “nobre” função segregadora, o “nobre” desígnio de reprodutora das assimetrias
sociais. Nesta medida o actual programa de matemática interessa a todos.
Interessa aos "professores" na
medida em que desde cedo começa a estigmatizar (e, como tal, a afastar) as
crianças que, com as respectivas evidências objectivas – sim, a matemática é coisa
de objectivos – acabam por se mentalizar que não têm cabecinha para os estudos.
Interessa aos "pais" porque assim o
próprio caminho encarrega-se afastar do caminho tantos e tantos concorrentes
que a democraticidade do ensino punha em em pé de igualdade com os seus filhos.
Interessa aos "alunos" porque com a
matemática de hoje não se tem dificuldade desde que o explicador explique bem
nas sessões de explicação pagas a peso de ouro.
Interessa ao país porque, quanto
mais cedo conseguir afastar os pobre e pô-los a trabalhar nas obras, melhor: o Estado não
tem tempo nem dinheiro a perder com estes (que por vezes até têm o atrevimento de
se auto-apelidarem de "alunos").
Lamentavelmente e ironias à parte todos sabemos que, nem uns nem outros, ganham com esta miséria que se está a passar nas nossas
escolas. Pelo contrário: todos perdem.
Os professores porque, ao aderirem
acriticamente a este processo de segregação civilizacional estão a hipotecar a
sua consciência e ética social.
Os pais (todos os pais) porque sujeitam
os seus filhos a processos e acções completamente desajustadas do seu estado de
desenvolvimento e maturidade e que acabarão por se revelar absolutamente
traumáticas e com consequência devastadoras.
Os alunos porque são eles, em
primeira linha, as vítimas destas “brincadeiras” de mau gosto.
O país porque
colectivamente vai arrasar uma geração de gente válida para favorecer meia dúzia
de adolescentes mimados que acabarão por ter sucesso na vida apenas porque têm
pais com posses para pagarem a peso de ouro as explicações que nem todos têm
acesso.
O que se passa actualmente no
ensino, em particular com os programas das disciplinas ditas nucleares, é
absolutamente criminoso. O silêncio que impera sobre isto (imposto por uma
força de arrogância disfarçada de intelectualidade absoluta)
é avassalador. É urgente denunciar tudo isto para que, tão cedo quanto possível possamos poupar as
nossas crianças a estes crimes políticos.
Se Crato tiver coragem para pôr
um ponto final a tudo isto, voltando ao antigo programa de Matemática (esta,
sim, escrita com letra maiúscula), poderá ter oportunidade com ter feito pelo
menos algo positivo.
Finalmente tenho de deixar uma
crítica feroz às associações (ou colégios ou ordens ou lá o que é que há sobre
isto) de psicólogos que se mantêm em silêncio e não denunciam a
inadequabilidade de matérias face ao estádio de desenvolvimento/maturidade dos
alunos.
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