Em dois mil e cinco, votei no PS de Sócrates porque via que o país estava em crise e era preciso uma solução.
Em dois mil e cinco, meio ano depois de ter votado no PS de Sócrates, via o meu ordenado congelado durante a próxima eternidade e estava conformado com isso porque o País estava em crise e era preciso uma solução.
Em dois mil e seis, um ano depois de ter votado no PS de Sócrates, via a qualidade de vida dos Portugueses (e a minha, claro) degradar-se – Centros de Saúde que fechavam; Justiça ridicularizada; Hospitais com taxas moderadoras no internamento; Escolas Públicas com a qualidade de ensino condicionada… – tudo, porque o País estava em crise e não havia outra solução.
Em dois mil e sete, dois anos depois de ter votado no PS de Sócrates, via os socialistas de Sócrates justificarem os grandes banqueiros e empresários – eram um exemplo de boas práticas, diziam – quando estes se pavoneavam na TV a exibirem a quadruplicação dos lucros, numa relação inversamente proporcional à dificuldade dos Portugueses. Bom, mas Portugal estava a sair da crise e esta era a solução.
Em dois mil e oito, três anos depois de ter votado no PS de Sócrates, via o País a, alegadamente, sair da crise mas a deixar para trás os Portugueses por causa da especulação provocada pelos combustíveis da Galp e os Juros da Banca, naquilo que mais não era do que – segundo os socialistas de Sócrates – o actuar de acordo com as boas práticas do mercado.
Em dois mil e nove, quatro anos depois de ter votado no PS de Sócrates, via o País sobressaltado por causa das “boas práticas” da banca e os portugueses a meterem dinheiro a rodos nas mãos daqueles que, durante os tempos de crise e privação, se tinham exibido com as quadruplicações dos lucros. Eram tempos de crise e era preciso uma solução, diziam.
Em dois mil e dez, meio ano depois de não ter votado no PS de Sócrates, vêm-me – principalmente os socialistas de Sócrates – pedir novamente disponibilidade para participar numa solução porque o País está em crise.
Pois bem, na típica postura de Zé Povinho do Rafael Bordalo Pinheiro digo-vos: não! Desta vez não contem comigo.
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Uma crónica 5*
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