sábado, dezembro 10, 2005

Shakespeare?

Há uma coisa que não consigo entender na doutrina de certa direita, nomeadamente aquela que incorpora – mas que não é exclusiva – a actual administração americana
Trata-se de uma direita particularmente fanática que não consegue, nem quer, separar a política da religião.
Não consegue, nem quer, concluir um parágrafo sem antes ter citado o nome de Deus pelo menos três vezes: que Deus nos abençoe... com a graça de Deus... que Deus nos ilumine... enfim, valha-nos Deus!
Por isso, assumem o direito pela defesa da vida como se só eles estivessem imbuídos daquele dom divino... como se fossem os únicos a ser bafejados com a capacidade de perceber o real e verdadeiro significado do Valor da Vida! Consequentemente, assumem posições claras e intransigentes em diversas matérias, nomeadamente na luta contra o aborto e causas afins!
Curiosamente, esta direita tão empenhada na defesa da vida, esquece-se frequentemente de cuidar da vida dos vivos!
Desigualdades sociais? Injustiça? Exploração?... no fundo liberalismo económico? Sim, e depois?

Por outro lado, são também os primeiros a terem o dedo fácil para o gatilho! São os primeiros a defenderem intervenções bélicas por motivos que, desde o início (e no seu íntimo), sabem que estão relacionados com questões meramente económicas.
No fundo, aquela frase simples de “Vidas por Petróleo”.

Não obstante serem os responsáveis por condições de vida verdadeiramente degradantes e conducentes a situações de marginalidade, são também os primeiros a defenderem a pena de morte...
Como é que se consegue citar Deus a torto e a direito e estar tão disponível para matar?
Como é que se consegue ser simultaneamente pela defesa da vida ignorando a qualidade de vida?

No fundo como é que se consegue ser e... não ser?
Eis a questão!

2 comentários:

Blogexiste disse...

O problema é que eles é que são "319" e nós é que sofremos as consequências (como sempre, aliás).
Como todos os impérios, também eles irão cair... o problema é saber quem e o quê levam atrás.
E, no fundo, é pena porque podiam dar uma contribuição muito positiva ao mundo se não fosse aquela terrível mentalidade dominante que está agora no topo.

Eduardo Leal disse...

O problema está numa das desgraças maiores da condição humana... "ter ou não ter".

E os Americanos do Norte são pioneiros na pior maneira de levar isso ao limite.

Parece que, finalmente, se decidiram a assinar o protocolo de Quioto (ouvi hoje nas notícias).
A fúria dos elementos escreve direito por linhas tortas. (pena é que as vítimas estão sempre do lado dos que têm menos culpa)

O problema da questão religiosa e das suas ligações ao poder é que quem de facto acredita em algo que entende puro e capaz de fazer do mundo um lugar melhor para viver, não precisa de impingir a fé aos outros e agir exactamente ao contrário dos seus valores.

Já agora, gostei muito do seu comentário ao texto do José Rocha.
Tem toda a razão... por vezes perdemos muito tempo a lamentar o quão somos prejudicados. Melhor faríamos (faremos? - espero bem) em ter uma atitude mais pró-activa.